O fôlego para apagar as 100 velinhas que celebravam seu aniversário falhou um pouco. No mês passado, pela primeira vez, Maria José Durães precisou ir ao médico por causa dos pulmões. Nada grave – ela esbanja saúde de ferro - mas mesmo os casos simples de pacientes centenários são desafios para a medicina.
“Um desafio que será cada vez mais recorrente na prática médica por causa do aumento da expectativa de vida do brasileiro”, projeta o diretor da Sociedade Paulista de Cardiologia, João Fernando Monteiro Ferreira. “A nossa experiência com esta faixa etária ainda é muito restrita e as pesquisas clínicas também excluem os muito idosos. Mas eles não só estão mais presentes como exigem cuidados diferenciados”, completa.
Uma das dificuldades em atender aos centenários é que ainda não há uma resposta certa sobre o que, de fato, os fez viver tanto. Nasceram em épocas de cuidados médicos arcaicos, sem vacinas ou saneamento básico. “Vivi feito bicho do mato, trabalhando na enxada de sol a sol, solta, com pé descalço e um pouquinho de água para lavar o corpo no final do dia. Comecei a trabalhar já na barriga da minha mãe”, confirma Maria José ao lembrar da sua infância no interior de Minas Gerais e adolescência em Presidente Prudente, no noroeste paulista.
A receita
Se o início difícil contrasta com o centenário vivido, os hábitos alimentares e de exercícios físicos – muito mais saudáveis e frequentes do que em tempos contemporâneos – podem justificar a presença de Maria José e dos outros 23.759 brasileiros no grupo etário que tem 100 anos ou mais, conforme calculou o Instituto Brasileira de Geografia e Estatística (IBGE) no fim de 2010.
E a aposta do geriatra do Hospital das Clínicas de São Paulo, Omar Jalul, é que a combinação destes dois fatores fez as pessoas estarem no aumento de 77% de centenários registrado nos últimos dez anos.
A receita
Se o início difícil contrasta com o centenário vivido, os hábitos alimentares e de exercícios físicos – muito mais saudáveis e frequentes do que em tempos contemporâneos – podem justificar a presença de Maria José e dos outros 23.759 brasileiros no grupo etário que tem 100 anos ou mais, conforme calculou o Instituto Brasileira de Geografia e Estatística (IBGE) no fim de 2010.
E a aposta do geriatra do Hospital das Clínicas de São Paulo, Omar Jalul, é que a combinação destes dois fatores fez as pessoas estarem no aumento de 77% de centenários registrado nos últimos dez anos.
Claro que a genética é fundamental para a longevidade, mas o que vejo nos meus pacientes com mais de 100 anos (são 6 atualmente) é que nunca abandonaram uma dieta saudável e sempre mexeram o corpo de forma sistemática em todos estes anos vividos."
“É isso (dieta e não ao sedentarismo) que vai fazer a diferença para as próximas gerações”, acrescenta a pediatra Ana Escobar, da Faculdade de Medicina da USP e coordenadora do projeto familiograma. “No programa, acompanhamos 2.700 crianças, desde o nascimento, para que vivam até os 100 anos, com qualidade. E todas as intervenções médicas que já fizemos nestes três anos de projeto foram associadas à alimentação e ao incentivo de atividades”, diz.
A receita de Jalul e Escobar é incorporada e fornecida de forma simples por Maria José. Ela criou os filhos, os 30 netos, 40 bisnetos e 6 tataranetos com muito angu, quiabo, diversas folhas verdes, pouco doce e nada de fritura (só umas escorregadas no torresmo).
“Nunca tive preguiça de nada e não gosto de frescura só porque tenho 100 anos. Moro sozinha e gosto de ir e vir”, diz, com cara de brava, e lembrando que semana passada andou uma hora no Mercadão de São Paulo para admirar os temperos naturais que tanto adora.
“E para hidratar, o bom é água. Não tomo refrigerante, um veneno para o corpo. Mantenho a mente ativa, com os livros. Música eu não gosto mais de ouvir, porque a geração de hoje só bajula Roberto Carlos, mas bom mesmo era o Nelson Gonçalves.”
Hortinha
A ausência dos versos de Nelson Gonçalves fez com que o rádio deixasse de ser companhia para Maria José. Mas a sua horta caseira, presente na trajetória desde o tempo de menina, ela não abandona “nem que viva mais 100 anos”.
Maria José acredita que a vida sem dinheiro e sem recursos a aproximou das ciências de baixa tecnologia. “Só estudei até o primeiro ano, mas a vida me ensinou. Os meus chás, xaropes e temperos protegeram a saúde de toda minha gente”, diz. Ao mesmo tempo, evitaram a automedicação com drogas farmacêuticas e o excesso de sódio para salgar a comida, já que em vez de tempero pronto ela só usa ervas.
No início do mês, enquanto preparava um de seus cházinhos, uma tosse forte a levou ao hospital. Os pulmões, mostraram os exames, não estão 100% e quando os pacientes centenários chegam às clínicas, os médicos não sabem muito bem como recebê-los e medicá-los.
“Sempre precisamos avaliar muito bem qual procedimento aplicar nestes pacientes mais velhos”, emenda Rubens Belfort, diretor de oftalmologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que mantém o ambulatório do centenário, com 30 pacientes frequentes. “Nem tudo que a medicina oferece é uma boa opção para eles, que podem não ter um organismo forte o suficiente para aguentar um procedimento mais invasivo ou cirúrgico. Por vezes, o cuidado paliativo é mais indicado.”
O deslize na saúde pode até aguçar a preocupação dos médicos, mas não intimidou Maria José. Ela obedece as recomendações clínicas – “apesar de detestar ir ao consultório”, mas dá de ombros quando perguntada se tem receio de morrer. “Tenho tanta coisa para fazer que nem lembro que a morte existe.”
As informações são do IG
A receita de Jalul e Escobar é incorporada e fornecida de forma simples por Maria José. Ela criou os filhos, os 30 netos, 40 bisnetos e 6 tataranetos com muito angu, quiabo, diversas folhas verdes, pouco doce e nada de fritura (só umas escorregadas no torresmo).
“Nunca tive preguiça de nada e não gosto de frescura só porque tenho 100 anos. Moro sozinha e gosto de ir e vir”, diz, com cara de brava, e lembrando que semana passada andou uma hora no Mercadão de São Paulo para admirar os temperos naturais que tanto adora.
“E para hidratar, o bom é água. Não tomo refrigerante, um veneno para o corpo. Mantenho a mente ativa, com os livros. Música eu não gosto mais de ouvir, porque a geração de hoje só bajula Roberto Carlos, mas bom mesmo era o Nelson Gonçalves.”
Hortinha
A ausência dos versos de Nelson Gonçalves fez com que o rádio deixasse de ser companhia para Maria José. Mas a sua horta caseira, presente na trajetória desde o tempo de menina, ela não abandona “nem que viva mais 100 anos”.
Maria José acredita que a vida sem dinheiro e sem recursos a aproximou das ciências de baixa tecnologia. “Só estudei até o primeiro ano, mas a vida me ensinou. Os meus chás, xaropes e temperos protegeram a saúde de toda minha gente”, diz. Ao mesmo tempo, evitaram a automedicação com drogas farmacêuticas e o excesso de sódio para salgar a comida, já que em vez de tempero pronto ela só usa ervas.
No início do mês, enquanto preparava um de seus cházinhos, uma tosse forte a levou ao hospital. Os pulmões, mostraram os exames, não estão 100% e quando os pacientes centenários chegam às clínicas, os médicos não sabem muito bem como recebê-los e medicá-los.
“Sempre precisamos avaliar muito bem qual procedimento aplicar nestes pacientes mais velhos”, emenda Rubens Belfort, diretor de oftalmologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que mantém o ambulatório do centenário, com 30 pacientes frequentes. “Nem tudo que a medicina oferece é uma boa opção para eles, que podem não ter um organismo forte o suficiente para aguentar um procedimento mais invasivo ou cirúrgico. Por vezes, o cuidado paliativo é mais indicado.”
O deslize na saúde pode até aguçar a preocupação dos médicos, mas não intimidou Maria José. Ela obedece as recomendações clínicas – “apesar de detestar ir ao consultório”, mas dá de ombros quando perguntada se tem receio de morrer. “Tenho tanta coisa para fazer que nem lembro que a morte existe.”
As informações são do IG